Os
últimos dias de 2018 conheceram uma nova onda repressiva por parte
do governo Ortega e Murillo. A Nicarágua conheceu em abril de 2018
um verdadeiro levante juvenil e popular, partindo da luta contra a
reforma da previdência, chegando ao questionamento das práticas
autoritárias do regime de Daniel Ortega. A resposta estatal foi
afogar em sangue o ímpeto da mobilização popular.
Desde
de então, as cifras são terríveis. Cerca de 500 assassinados, mais
de 600 presos políticos, além de um número próximo a 1300
desaparecidos. Sem contar as migrações forçadas, a perseguição
contra família de ativistas, além da intimidação por parte de
bandas e grupos paramilitares autodenominados de "juventudes
sandinistas".
Durante
o ano inteiro se realizaram atividades internacionais de
solidariedade com a luta democrática do povo nicaragüense,
organizadas por entidades de direitos humanos, movimentos estudantis,
feministas , culturais e indígenas, muitos vivendo fora da
Nicarágua. Grande parte da vanguarda revolucionária dos anos '70 e
'80, como Monica Baltodano, Sergio Ramirez, Ernesto Cardenal,
Gioconda Belli, entre vários, condenaram o governo como uma
verdadeira ditadura.
A
tensão voltou a aumentar em dezembro, com vistas a acossar o
movimento popular, visto que Ortega e seu clã vem perdendo
popularidade, chegando aos índices mais baixos em muitos anos. Além
de ampliar os seqüestros e prisões políticas, a polícia fechou um
dos principais canais de televisão, "100% Notícias", de
corte jornalístico e opositor, no dia 21 de dezembro. Na mesma
semana, foram expulsas duas missões ligadas a Comissão
Interamericanana de Direitos Humanos(CIDH) da OEA. As missões já
tinham sido impedidas pela polícia de exercer seu direito à livre
reunião, para ouvir vitimas de violações de direitos humanos.
Como
afirmou o secretário executivo da (CIDH) ,o brasileiro Paulo Abrão,
publicamente reconhecido por sua trajetória internacional em defesa
dos direitos humanos e democráticos, na sua conta do twitter:
“Acelera-se a quarta fase de repressão na Nicarágua: a
consolidação de um Estado de Exceção com decretos policiais ou
atos legislativos que tentam manter a ‘aparência de legalidade'
para medidas que restringem e afetam a essência dos direitos
humanos.”
Diante
desse quadro, não há outra saída senão convocar a todos os
setores democráticos do continente e do mundo a se pronunciarem,
como vínhamos fazendo durante o ano de 2018. A luta da resistência
nicaraguense é uma luta central, estratégica e imediata. Defender
a liberdade na Nicarágua é condenar as ações arbitrárias da
ditadura de Ortega e Murillo.
Tampouco
a ingerência externa, ou qualquer tipo de ação oriunda de governos
também autoritários como Trump ou Bolsonaro poderá servir de saída
para o impasse que vive Nicarágua. Apenas apostamos e confiamos nas
forças do povo nicaraguense, que tem uma enorme tradição de luta
revolucionária, apoiado pela solidariedade sem fronteiras dos
internacionalistas do mundo. É preciso condenar Ortega, exigir o fim
das prisões políticas, o desmantelamento dos grupos de choque, para
que o próprio povo da Nicarágua possa ser livre e decidir seus
próprios caminhos.