Este sistema reinou sem partilha, desde a independência, usando todos os meios coercitivos e autocráticos para impedir qualquer veleidade de mudança e de democratização do país. Para além da destruição das instituições da República (saúde, educação, justiça, cultura, etc.), a corrupção, o autoritarismo e as injustiças sociais, este sistema pôs também em movimento uma estratégia maquiavélica que mantém e reforça um pensamento e práticas promovendo a desigualdade no seio da sociedade. As mulheres argelinas pagaram um preço alto, tanto no plano simbólico, formal, quanto no plano real.
Com efeito, a história das lutas argelinas é testemunho do envolvimento massivo das mulheres em todos os combates justos e decisivos que o país travou: a Guerra de Libertação Nacional, a edificação do Estado argelino independente, a revolta de outubro de 1988, as lutas sindicais, estudantis e democráticas antes e depois de outubro de 1988, a luta contra os grupos integristas armados durante os anos 1990, etc.. Combates que elas pensaram, elaboraram e travaram ao lado dos homens na esperança de construir uma sociedade igualitária e de ver esta igualdade concreta, vivida durante estes momentos difíceis, tornar-se uma conquista indiscutível logo que os objetivos sejam atingidos.
Infelizmente, esta igualdade prometida ainda não foi conseguida. A escolarização massiva das raparigas e o seu cortejo de diplomadas competentes, a nossa presença das mais notáveis no mundo do trabalho, bem como as modificações legislativas e regulamentares arrancadas por décadas de lutas não retiraram ainda as mulheres da sua menorização na sociedade, que se mantém patriarcal, e de um estatuto de cidadania de segunda classe nas instituições.
A participação ativa e incondicional das mulheres argelinas no Movimento do 22 de fevereiro incita-nos a reafirmar a nossa determinação de mudar o sistema existente com todas as suas componentes, incluindo a sua vertente sexista, patriarcal e misógena.
No dia 16 de março de 2019, realizou-se uma reunião de mulheres em Argel. Na sequência de um debate e de uma longa concertação, ficou decidido o que se segue:
Nós, mulheres signatárias desta declaração, estamos convencidas de que a construção do nosso futuro comum não pode ser feito sem uma igualdade plena e inteira entre as cidadãs e os cidadãos, sem distinção de género, de classe, de região ou de crenças.
Devemos continuar a estar presentes em todo o lado com os nossos colegas, nossos vizinhos, para fazer perdurar esta bela mistura em todas as manifestações, mas também para tornar mais visível a nossa reivindicação de igualdade.
Decidimos a criação de um coletivo feminista que tomará posição todas as sextas-feiras no portal da Faculdade central de Argel a partir das 13h.
Apoiamos e encorajamos iniciativas semelhantes em todo o território argelino e subscrevemos totalmente as declarações que considerem que a igualdade entre as mulheres e os homens é uma das prioridades para a mudança do sistema atual.
Apelamos a todas as mulheres que se reconheçam neste apelo que juntem as suas assinaturas às nossas, que integrem os coletivos feministas onde eles existirem ou que os criem quando as condições o permitirem, e que participem nas nossas próximas reuniões cuja data e lugar serão comunicados publicamente.
Apelamos a levar em conta a representatividade paritária das mulheres em qualquer iniciativa cidadã para a saída desta crise.
Condenamos qualquer ato de assédio durante as manifestações.
Argel, 16 de março de 2019
ASSINAM:
Saadia Gacem, Corretora, estudante de doutoramento em sociologia e activista feminista, membro da Rede Wassila
Sarah Haidar, Jornalista e escritora
Fatma BOUFENIK, Professora – Investigadora da Universidade de Oran 2, membro fundadora da Associação “Mulheres Argelinas Reivindicando os seus Direitos” – FARD – OranAmina Izarouken, feminista
Faïka Psicanalista Medjahed, integrante da rede Wassila
Souad Bensaâda, ativista feminista
Belhacene Atiqa, feminista
Kahina Arezki, médica residente
Louisa Ait Hamou, feminista, acadêmica
Laïla Saadna, ativista feminista, diretora e instrutora
Amel Hadjadj, ativista feminista
Fatma Oussedik, socióloga, feminista
Sanaâ Hamadouche, feminista
Sara Bouchair, ativista feminista
Farida Bouchenaf, ativista feminista
Dalila Bouchenaf, ativista feminista
Publicado em A l’encontre
TRADUÇÃO: Luis Leiria (Esquerda.net – https://www.esquerda.net/dossier/mulheres-argelinas-reafirmamos-nossa-determinacao-de-mudar-o-sistema-existente/60717)